domingo, 22 de setembro de 2013

La double.

"Amor platônico é qualquer tipo de relação afetuosa ou idealizada em que se abstrai o elemento sexual, por vários gêneros diferentes, como em um caso de amizade pura, entre duas pessoas. Amor platônico também pode ser um amor impossível, difícil ou que não é correspondido ...
Para o filósofo grego Platão, o amor era algo essencialmente puro e desprovido de paixões, ao passo em que estas são essencialmente cegas, materiais, efêmeras e falsas. O amor platônico, não se fundamenta num interesse, e sim na virtude. Platão criou também a teoria do mundo das idéias, onde tudo era perfeito e que no mundo real tudo era uma cópia imperfeita desse mundo das idéias. Portanto amor platônico, ou qualquer coisa platônica, se refere a algo que seja perfeito, mas que não existe no mundo real, apenas no mundo das idéias ... "

Eu sonhei com você esta noite, não uma vez, várias, em todos os sonhos que me lembro ter tido. Uma vez sonhei que nos beijávamos, mas não parecia real, minha mente se esforçou e criou outros sonhos em que éramos de verdade, eu via que era, sentia.
Isso é consequência de te ter por perto, de te/me visitar, tomar algumas, colocar o papo em dia e te abraçar.
Isso é consequência de eu transformar seus defeitos em maravilhosas qualidades e concordar com tudo o que você diz . Leio todos os livros que me pede pra ler, assisto todos os filmes que você grava pra mim e até os que não grava, assisto todos, repetidas vezes. Ouço suas músicas, o que fica fácil, com esse seu acervo tão limitado, eu tento melhorá-lo.
Isso é consequência de eu querer ser o/do seu mundo, mas no seu mundo só há você além de si mesmo.
Isso é consequência de você ser assustadoramente lindo e impecavelmente inteligente. As suas mãos são bonitas, assim são seus olhos e seus cabelos, estes vão cair com o tempo.
Isso é consequência de eu acreditar que sempre vou te encontrar na padaria ou no sacolão ou no trânsito ou no shopping que frequentamos, eu sei suas lojas preferidas, você conhece as minhas.
Isso é consequência da minha distração, aliás, minha distração que é consequência disso. Desse negócio que você não sabe que faz quando some e aparece. E que bom que reaparece. E que pena que reaparece. 
Isso é consequência de eu amar você, gostaria de pedir que não se sinta mal por essas verdades, quando se ama alguém, esse ser deixa de ser quem é em verdade para quem o ama, a verdade passa a ser o que o ser amante pegou pra si. Você sabe o quanto é difícil discernir os dois mundos, não sabe?
Isso é consequência de eu amar você.
E eu te amo desde a quarta-série.
P. S.: Me leve para passear como nos velhos tempos? I won't make a move, dentre as mais torturadoras certezas eis mais uma: nós jamais seremos um casal, nós podemos ser uma dupla, somos mesmo uma bela dupla, mas ambos sabemos que seríamos uma merda como casal, ainda que não encontremos nada até os 30, você lembra? Não fomos feitos para ser um casal. Somos dupla. E não precisamos lembrar meu coração disso, se a razão já ficou, antes de você, careca de saber. 

terça-feira, 3 de setembro de 2013

O palestrante.

Ele dizia: " Nós estamos falando de bilhões "
E eu pensava: " Será que ele acredita que eu entendo bem qual a diferença? "

E pensei mais coisas, pensei, por exemplo, em quanto a mim números não fazem sentido.
O discurso é sempre: " Não sei quantos por cento fazem isso e não sei quantos por cento aquilo ..."
Pra ser sincera, tenho problemas com estatísticas e por hora não me refiro à componente da minha grade curricular na faculdade, que comigo vive em relação de desamor.
É que costumo ler aquelas placas da prefeitura falando do valor gasto em reformas como: "Muito dinheiro público gasto nessa obra e muito desvio nas notas fiscais com certeza, porque não consigo enxergar tanto investimento nisso aí."
E aquelas outras na frente das empresas que dizem quantos dias estão sem acidentes, normalmente me informam: "Há muitos dias ninguém se machuca."
Não memorizo números, nem datas.
Essas coisas só me impressionam e apressadamente as esqueço.
Na verdade, não me importo muito com números, principalmente com os que não me interessam diretamente, aqueles não se referem à minha conta bancária sempre vazia, apenas reconheço sua importância e é só.
Quando as pessoas me dizem pela manhã o quanto a Apple faturou esse ano ou quanto o Eike Baptista perdeu de sua enorme fortuna, eu me impressiono. À tarde, sou incapaz de citar quaisquer valores em uma conversa.
Do palestrante, absorvi que, além de ser premissa básica de adulto descolado brincar que suas mulheres batem neles, estou fazendo uma graduação diretamente ligada aos números dos outros e que para o bem da minha integridade mental, preciso continuar estudando, pra que eu possa fazer o que eu sempre quis que é dar aulas e aí só me importar com os meus números ou os números que verdadeiramente me interessam.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Talvez se chame Maria, talvez se chame João.

As pessoas andam cansadas,
cansadas porque esperam.

Esperam o ônibus, o horário de almoço, o dia do pagamento, mudar o tempo e a sorte.

As pessoas andam cansadas,
cansadas porque carregam pesos.

Carregam pesos de bolsas, de sacolas de mercado, de livros, de instrumentos e de consciência.

As pessoas andam cansadas,
cansadas porque querem.

Querem dar o melhor aos seus filhos, querem dar o melhor a si mesmos e aos seus pais.

As pessoas andam cansadas,
cansadas por trabalharem.

Trabalharem em casa, para elas e para os outros, com remuneração e de graça.

As pessoas andam cansadas,
cansadas por perseguirem.

Per seguirem seus sonhos e é esta a razão do cansaço, da espera, do peso, do querer e do trabalho.

Essas pessoas já sabem disso, ela talvez se chame Maria e ele talvez se chame João.



terça-feira, 20 de agosto de 2013

"Eu perco o chão
 Eu não acho as palavras
 Eu ando tão triste
 Eu ando pela sala
 Eu perco a hora
 Eu chego no fim
 Eu deixo a porta aberta
 Eu não moro mais em mim...
 Eu perco as chaves de casa
 Eu perco o freio
 Estou em milhares de cacos
 Eu estou ao meio
 Onde será
 Que você está agora?"
 Adriana Calcanhotto

Eu fui rejeitada.

Eu fui rejeitada pela chuva, que não veio aquele dia.
E fui rejeitada pelo tempo, que engole tudo o que é meu.
Rejeitada pela sorte, que levou meu pai de mim antes mesmo de ter falecido.
Também pelo ônibus hoje cedo, que passou sem que eu já estivesse no ponto.

Eu fui rejeitada pelos meus genes, que não me deixam meu cabelo e nem meus seios crescerem.
E fui rejeitada por aqueles pseudo-intelectuais, que não me deram chance de gritar o que sei.
Rejeitada pelo vento, que me despenteou ao entardecer.
Também pelo rapaz, que pegou meu número e nunca ligou.

Eu fui rejeitada pela universidade, que, por décimos, no processo seletivo me desprezou.
E fui rejeitada pelo meu ex-namorado, que se encarregou de me desapaixonar.
Rejeitada pelo meu chuveiro, que ficou gelado enquanto ainda tinha shampoo.
Também por você, que não responde minhas mensagens tentando me dopar que a operadora está ruim.

Eu fui rejeitada pelo sol, que aqueceu o asfalto e a areia enquanto me desidratava n'outro verão.
E fui rejeitada pela arte, que não me concedeu qualquer talento.
Rejeitada pela tecnologia, que só se desentende comigo.
Também pelo sono,que se despede toda vez ao me deitar.


domingo, 18 de agosto de 2013

Ninguém é de todo completo.

Eu não sei, dentre tantas colocações existe uma que me assombra.
Sempre.
É essa coisa de ser da natureza humana a insatisfação.
Vejo mais como uma faca de dois gumes.

Breve pausa:

Quando eu era criança achava que fosse "faca de dois legumes", vai entender. Como é que uma faca só serviria para dois legumes?
Com o passar do tempo descobri o que é faca de dois gumes ouvindo Engenheiros.
Do Yahoo Respostas : Algo que representa coisas boas e ruins. Algo que acarreta fatores positivos e/ou negativos.

Recapitulando

Ora, por um lado, fala-se daquilo de perseguir objetivos, não se saciar com pouco, abaixo estagnação.
Por outro, tem-se o reclamar de barriga cheia, fracassar no caminho, não ter oportunidade$ e tempo (que aliás, falando assim, parece até pleonasmo)

Até onde é bom mesmo ser da natureza humana a insatisfação?

Até onde é bem ruim a ignorância?

Reticências 

Ou, como li em algum lugar que dizia ser do Mário Quintana, a representação dos três primeiros passos para o pensamento que continua por contra própria seu caminho.

domingo, 4 de agosto de 2013

Meio grau de astigmatismo.

Era a moça que ficara lá, dentre as penas brancas ou fibras de algodão.
Era a moça que vinha sempre, quando qualquer música tocara.
Era a moça que o tirara o sono.
Era a moça que o fizera rir.
Era a moça que o dera um beijo.
Era a moça.
Era a moça que o tirara do sério.
Era a moça que ... ah, era só a moça.
Era a moça que se destacara.
Era a moça que o fizera um sanduíche.
Era a moça que o pedira para calar-se.
Era a moça que o dissera para seguir.
Era a moça que o pusera para dormir.
Era a moça incoerente e contraditória.
Era a moça que o desconcertara.
Era a moça que o deixara ir.

E depois de certo tempo, ele foi.