quarta-feira, 30 de julho de 2014

Eu por mim eu desgostava de você. 

segunda-feira, 28 de julho de 2014

A cor do lápis.



Pela manhã me vi numa situação embaraçosa, sou negra, numa família negra, com primos negros, até os brancos de pele são negros aqui. 

Pois bem, dados os fatos, um desses primos negros de apenas quatro anos brincava comigo na sala e me pediu para tirar um foto com ele, a minha pele é pouquíssima coisa mais clara que a dele, ao constatar isso revendo nossa foto, quis se pintar de "cor de pele". 

Mas a cor da pele dele não é cor de pele também?

Pele tem só uma cor? 

Evidentemente, eu sabia a que cor ele se referia e você, caro leitor, também. 

Na mesma hora o corrigi, o corrigi como nunca havia feito comigo antes. 

Salmon, ou se preferir, coral, não é cor de pele, é no máximo a cor de um peixe. 

E perguntei: - Que cor é sua pele? Não é marrom? 

- Sim, marrom. 

- Pois bem, a sua pele é marrom e a minha? 

- Rosa. 

- Não, a minha pele também é marrom, um marrom mais claro, mas é marrom e podia ser marrom mais escuro ainda. Mais escuro que marrom é preto, não é? Então, preto também pode ser a cor de uma pele não pode? 

- Pode.

- Vamos precisar te pintar na foto ainda? 

- Não, a cor da minha pele é marrom.

E fim de papo, mas fiquei pensando no quanto o racismo está dentro da gente. 

E dentro de mim. 

Eu que me sinto tão mente aberta e chamava até hoje de manhã a cor de um lápis de "cor de pele", aliás, nunca conheci ninguém "cor de pele" mesmo.

Pela lógica o meu marrom seria o meu cor de pele. 

O amarelo da minha Maria, o cor de pele dela. 

O branco, o cor de pele do João.

O vermelho, o cor de pele da Bia na apresentação do trabalho, tadinha.

O verde, o cor de pele do Pedro, que adoeceu essa semana. 

E o pior, no verão eu precisaria de outro lápis mais escuro pra chamar de cor de pele. E quando eu começasse a descascar de tanto sol, teria que andar com dois no bolso.

Nós somos muito diferentes na cor e na largura e na altura. 

Ainda bem!

Então mais pelas nossas crianças de quatro anos que por nós, os já estragados, que tal largarmos esses eufemismos tolos de lado? 

Pretinho é o diminutivo de preto e se esse preto não for pequeno, não faz nenhum sentido. 





sábado, 12 de julho de 2014

Estou cansada de ser paranóica, cansada de gostar de você e de ter que conviver com a minha solidão.
Todavia, como sempre, eu ainda aceitaria mais uma dose. 

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Eu vim com defeito.

Eu vim com defeito e porque vim com defeito enfrentei a fila da lotérica para pagar um boleto cujo corpo carregava a mensagem: apenas banco do Brasil. 
Porque vim com defeito, minha estrias estão aumentando, não é o refrigerante, nem a calça jeans, sou eu que está com estrias. 
Porque vim com defeito, tenho fracassado tantas vezes e mantido intacta a ideia de que fiz a minha parte. 
Porque vim com defeito, estou sempre certa.
Porque vim com defeito, uso a internet por mais horas do que deveria e amaldiçoo meus professores pelos curtos prazos todo fim de semestre.
Porque vim com defeito, comprei aquele salto rosa choque e o calçava para desfilar toda torta pelos corredores do shopping. 
Minha mãe também tem defeito, por que raios essa mulher me deixava fazer isso? 
Porque vim com defeito, gasto meu dias em busca da fórmula que solucione minha insatisfação com o mundo, com o que escolhi estudar primeiro, com a minha vida amorosa e meus seios pequenos. 
E, principalmente porque vim com defeito, resolvi que não volto pra fábrica, aos 19, já estou bem fora da garantia.
Na verdade, quem é que garante alguma coisa?
Então, belo rapaz, não me pergunte o que faço sozinha de uniforme vermelho sentada nesta praça sob o sol das 8 horas cantando Mambo Number Five em voz alta. 

O nome disso ... é defeito. 

E porque vim repleta deles, permita-me desafinar.