quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Talvez se chame Maria, talvez se chame João.

As pessoas andam cansadas,
cansadas porque esperam.

Esperam o ônibus, o horário de almoço, o dia do pagamento, mudar o tempo e a sorte.

As pessoas andam cansadas,
cansadas porque carregam pesos.

Carregam pesos de bolsas, de sacolas de mercado, de livros, de instrumentos e de consciência.

As pessoas andam cansadas,
cansadas porque querem.

Querem dar o melhor aos seus filhos, querem dar o melhor a si mesmos e aos seus pais.

As pessoas andam cansadas,
cansadas por trabalharem.

Trabalharem em casa, para elas e para os outros, com remuneração e de graça.

As pessoas andam cansadas,
cansadas por perseguirem.

Per seguirem seus sonhos e é esta a razão do cansaço, da espera, do peso, do querer e do trabalho.

Essas pessoas já sabem disso, ela talvez se chame Maria e ele talvez se chame João.



terça-feira, 20 de agosto de 2013

"Eu perco o chão
 Eu não acho as palavras
 Eu ando tão triste
 Eu ando pela sala
 Eu perco a hora
 Eu chego no fim
 Eu deixo a porta aberta
 Eu não moro mais em mim...
 Eu perco as chaves de casa
 Eu perco o freio
 Estou em milhares de cacos
 Eu estou ao meio
 Onde será
 Que você está agora?"
 Adriana Calcanhotto

Eu fui rejeitada.

Eu fui rejeitada pela chuva, que não veio aquele dia.
E fui rejeitada pelo tempo, que engole tudo o que é meu.
Rejeitada pela sorte, que levou meu pai de mim antes mesmo de ter falecido.
Também pelo ônibus hoje cedo, que passou sem que eu já estivesse no ponto.

Eu fui rejeitada pelos meus genes, que não me deixam meu cabelo e nem meus seios crescerem.
E fui rejeitada por aqueles pseudo-intelectuais, que não me deram chance de gritar o que sei.
Rejeitada pelo vento, que me despenteou ao entardecer.
Também pelo rapaz, que pegou meu número e nunca ligou.

Eu fui rejeitada pela universidade, que, por décimos, no processo seletivo me desprezou.
E fui rejeitada pelo meu ex-namorado, que se encarregou de me desapaixonar.
Rejeitada pelo meu chuveiro, que ficou gelado enquanto ainda tinha shampoo.
Também por você, que não responde minhas mensagens tentando me dopar que a operadora está ruim.

Eu fui rejeitada pelo sol, que aqueceu o asfalto e a areia enquanto me desidratava n'outro verão.
E fui rejeitada pela arte, que não me concedeu qualquer talento.
Rejeitada pela tecnologia, que só se desentende comigo.
Também pelo sono,que se despede toda vez ao me deitar.


domingo, 18 de agosto de 2013

Ninguém é de todo completo.

Eu não sei, dentre tantas colocações existe uma que me assombra.
Sempre.
É essa coisa de ser da natureza humana a insatisfação.
Vejo mais como uma faca de dois gumes.

Breve pausa:

Quando eu era criança achava que fosse "faca de dois legumes", vai entender. Como é que uma faca só serviria para dois legumes?
Com o passar do tempo descobri o que é faca de dois gumes ouvindo Engenheiros.
Do Yahoo Respostas : Algo que representa coisas boas e ruins. Algo que acarreta fatores positivos e/ou negativos.

Recapitulando

Ora, por um lado, fala-se daquilo de perseguir objetivos, não se saciar com pouco, abaixo estagnação.
Por outro, tem-se o reclamar de barriga cheia, fracassar no caminho, não ter oportunidade$ e tempo (que aliás, falando assim, parece até pleonasmo)

Até onde é bom mesmo ser da natureza humana a insatisfação?

Até onde é bem ruim a ignorância?

Reticências 

Ou, como li em algum lugar que dizia ser do Mário Quintana, a representação dos três primeiros passos para o pensamento que continua por contra própria seu caminho.

domingo, 4 de agosto de 2013

Meio grau de astigmatismo.

Era a moça que ficara lá, dentre as penas brancas ou fibras de algodão.
Era a moça que vinha sempre, quando qualquer música tocara.
Era a moça que o tirara o sono.
Era a moça que o fizera rir.
Era a moça que o dera um beijo.
Era a moça.
Era a moça que o tirara do sério.
Era a moça que ... ah, era só a moça.
Era a moça que se destacara.
Era a moça que o fizera um sanduíche.
Era a moça que o pedira para calar-se.
Era a moça que o dissera para seguir.
Era a moça que o pusera para dormir.
Era a moça incoerente e contraditória.
Era a moça que o desconcertara.
Era a moça que o deixara ir.

E depois de certo tempo, ele foi.


20 utilidades para um cartão telefônico.

1- Serve para colecionar.
2- Encurtar uma distância, geralmente de 1.699 km, o que é daqui até a cidade da minha vó no sul da Bahia.
3- Passar frio.
4- Aqueles com muitas unidades, passar raiva. Afinal, e a espera ?
5- Organizar fileiras de drogas, só escrevi porque já vi em filmes.
6- Para dar utilidade àqueles orelhões decorados da Paulista, que aliás deveriam agora ser dotados de carregadores para smartphone.
7- Antigamente, num passado obstante, para gerar lucros. Atualmente, para falir.
8- A sua ausência, gera ligações com o prefixo 9090, assim sendo, serve para evitar contas milionárias de telefone.
9- Para brincar, fingir que é de crédito. Irônico, já que a este ponto não é nem de unidades.
10- Para cortar.
11- Salvar uma vida.
12- Passar um trote.
13- Perder.
14- Achar.
15- Demonstrar afeto.
16- Matar saudade.
17- Pedir um taxi.
18- ...
19- E pra mais nada. Quem ainda usa isso ?
20- Tenha uma boa noite.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013